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domingo, 27 de novembro de 2011

Os melhores conselhos, por Nasrudin

Nasrudin começou a construir uma casa.

Seus amigos, que tinham cada um sua própria casa, e eram carpinteiros, pedreiros, o rodearam de conselhos. Mulla estava radiante.

Um após outro, e às vezes todos juntos, disseram-lhe o que fazer. Nasrudin seguia docilmente as instruções que cada um lhe dava.

Quando a construção terminou, ela não se parecia em nada com uma casa.

"Que curioso!", disse Nasrudin, "e contudo eu fiz exatamente aquilo que cada um de vocês me tinha dito para fazer."

Doente, graças a Deus; por Nasrudin

Nasrudin, sentado na sala de espera do consultório médico, repetia em voz alta: "Espero que eu esteja muito doente", o que intrigava os outros pacientes.

Quando o médico apareceu, Nasrudin repetia quase gritando:

"Espero que eu esteja muito doente".

"Por que você diz isso?", perguntou o médico.

"Detestaria saber que alguém que se sente tão mal quanto eu não tem nada!".

sábado, 26 de novembro de 2011

Biografia de Osho

Osho nasceu em Kuchwada, Madhya Pradesh, Índia, em 11 de dezembro de 1931. Filho mais velho de um modesto mercador de tecidos, passou os sete primeiros anos de sua infância com seus avós, que lhe davam absoluta liberdade para fazer o que bem quisesse, apoiando suas precoces e intensas investigações sobre a verdade da vida. Desde cedo foi um espírito rebelde e independente, desafiando os dogmas religiosos, sociais e políticos, e insistindo em buscar a verdade por si mesmo, ao invés de adquirir conhecimentos e crenças impingidos por outros. Enfrentou e enfureceu o mestre janista de seu avô com apenas 5 anos de idade!

Sua intensa busca espiritual chegou a afetar sua saúde a ponto de seus pais e amigos recearem que ele não vivesse por muito tempo. Após a morte do avô, Osho foi viver com seus pais em Gadawara. Sua avó mudou-se para a mesma cidade, permanecendo como sua mais dedicada amiga até falecer em 1970, tendo se declarado discípula do neto.

Osho, dias antes da iluminação
Aos 21 anos de idade, no dia 21 de março de 1953, Osho tornou-se iluminado. Com sua iluminação, ele disse que sua biografia externa terminara. Nessa oportunidade comentou: "Não estou mais buscando, procurando por alguma coisa. A existência abriu todas as suas portas para mim. Nem ao menos posso dizer que pertenço à existência, porque sou simplesmente uma parte dela... Quando uma flor desabrocha, desabrocho com ela. Quando o Sol se levanta, levanto-me com ele. O ego em mim, o qual mantém as pessoas separadas, não está mais presente. Meu corpo é parte da natureza, meu ser é parte do todo. Não sou uma entidade separada."

Osho graduou-se em Filosofia na Universidade de Sagar, com as honras de "primeiro lugar". Na época de estudante foi campeão nacional de debates na Índia. Em 1966, depois de nove anos limitado pela função de professor de Filosofia na Universidade de Jabalpur, abandonou o cargo e passou a viajar por todo país, dando palestras, desafiando líderes religiosos ortodoxos em debates públicos, desconcertando as crenças tradicionais e chocando o "status quo".

Osho, após a iluminação
Em 1968, ainda com seu primeiro nome espiritual, Bhagwan Shree Rajneesh, estabeleceu-se em Bombaim, onde morou e ensinou por alguns anos. Organizou regularmente "campos de meditação", onde introduziu a sua revolucionária Meditação Dinâmica. Em 1974 inaugura o "Ashram" de Poona, e sua influência já atinge o mundo inteiro. Ao mesmo tempo, sua saúde se fragilizava seriamente.

Osho se recolhia cada vez mais à privacidade de seus aposentos, aparecendo apenas duas vezes por dia em suas palestras matinais e, à noite, em sessões de aconselhamento e iniciação.

Em maio de 1981, Osho parou de falar e iniciou uma fase de "comunhão silenciosa de coração-a-coração", enquanto seu corpo, seriamente enfermo, com graves problemas de coluna, descansava. Tendo em vista a possibilidade de que fosse necessária uma cirurgia de emergência, Osho foi levado aos Estados Unidos. Seus discípulos americanos compraram um rancho no deserto do Oregon e convidaram-no a ir para lá, onde recuperou-se rapidamente.

Uma comuna logo estabeleceu-se ao seu redor, formando a cidade de Rajneeshpuram. Em outubro de 1984, Osho voltou a falar a pequenos grupos e, em julho de 1985, reiniciava seus discursos a milhares de buscadores, todas as manhãs.

Em setembro de 1985, a secretária pessoal de Osho deixa a comuna, repentinamente, seguida por vários membros da administração, vindo com isso à luz todo um conjunto de atos ilegais cometidos por esse grupo. Osho convidou as autoridades americanas para que procedessem a todas as investigações necessárias. Tirando proveito dessa oportunidade, as autoridades aceleraram sua luta contra a comuna.

Em 29 de outubro de 1985, Osho foi preso em Charlotte, Carolina do Norte, sem um mandado de prisão. Sua viagem de volta ao Oregon, onde seria julgado - normalmente um vôo de cinco horas - demorou oito dias. Por alguns dias ninguém soube do seu paradeiro. Em meados de novembro, seus advogados aconselharam-no a confessar-se culpado por duas das trinta e quatro "violações de imigração" das quais era acusado, para evitar que sua vida corresse maiores riscos nas garras do sistema jurídico americano. Osho concordou. Foi multado e obrigado a deixar os Estados Unidos, com retorno proibido pelos próximos cinco anos.

Deixando o país no mesmo dia, Osho voou para a Índia em avião particular, onde permaneceu em repouso nos Himalaias. Uma semana mais tarde, a comuna do Oregon resolveu dispersar-se. Nessa época, Osho enfrentou uma verdadeira "via crucis" para poder fixar-se num lugar, pois onde quer que tentasse estabelecer-se tinha sua permanência negada pelas autoridades, por visível influência do governo norte americano. Ao todo, vinte e um países o expulsaram ou negaram o visto de entrada.

Em julho de 1986 Osho voltou a Bombaim, na Índia, onde ficou hospedado por seis meses na casa de um amigo indiano. Na privacidade da casa de seu anfitrião, ele retornou aos seus discursos diários.

Em janeiro de 1987, mudou-se para o seu "Ashram" em Poona, onde vivera a maior parte dos anos 70. Imediatamente após sua chegada, o chefe de polícia de Poona ordenou-lhe que deixasse a cidade, sob a alegação de que era uma "pessoa controversa" que poderia "perturbar a tranqüilidade da cidade". Tal ordem foi revogada no mesmo dia pela Suprema Corte de Bombaim..

No seu trabalho, Osho falou praticamente sobre todos os aspectos do desenvolvimento da consciência humana. Seus discursos para discípulos e buscadores de todo o mundo foram publicados em mais de seiscentos e cinqüenta títulos e traduzidos para mais de trinta línguas.

Ele diz: "Minha mensagem não é uma doutrina, não é uma filosofia. Minha mensagem é uma certa alquimia, uma ciência da transformação; assim, somente aqueles que estão dispostos a morrer como são e a renascer em algo tão novo que agora nem podem imaginar, somente essas poucas pessoas corajosas estarão prontas a me ouvir, porque isto será perigoso. Ouvindo, você dá o primeiro passo em direção ao renascimento. Por isso, a minha mensagem não é uma simples comunicação verbal. Ela é muito mais perigosa. Ela é nada menos do que a morte e o renascimento."

De Sigmund Freud a Chuang Tzu, de George Gurdjieff a Buda, de Jesus Cristo a Rabindranath Tagore, Osho extraiu de cada um a essência do que é significativo na busca espiritual do homem, baseando-se não apenas na compreensão intelectual, mas sim na sua própria experiência existencial.

Osho deixou seu corpo em 19 de janeiro de 1990. Algumas semanas antes dessa data, foi-lhe perguntado o que aconteceria com seu trabalho quando ele partisse. Ele disse: "Minha confiança na existência é absoluta. Se houver alguma verdade naquilo que estou dizendo, isso irá sobreviver... As pessoas que permanecerem interessadas em meu trabalho irão simplesmente carregar a tocha, mas sem impor nada a ninguém..."

Epitáfio: Osho. Nunca nasceu. Nunca morreu.
Apenas visitou este Planeta Terra de
11 dezembro de 1931 a 19 de janeiro de 1990.

A comuna que cresceu à sua volta floresce em Poona, Índia, onde milhares de discípulos e buscadores se reúnem, durante o ano inteiro, para participar das meditações e dos outros programas lá oferecidos.

Poesia: Ever since my house burnt down (Ashes and Snow)

Este é um maravilhoso trecho do filme "Ashes and Snow", uma linda produção de Gregory Colbert. Este filme é parte de uma exposição de mesmo nome, composta ainda de fotografias e um romance, expostos em um museu itinerante chamado Nomadic Museum. O trabalho explora as sensibilidades poéticas partilhadas pelos seres humanos e pelos animais.

Desde que minha casa pegou fogo
eu vejo a lua com maior clareza
Eu contemplei todos os Edens
que caíram sobre mim
Eu vi Edens que eu tinha em minhas mãos,
mas deixei ir
Eu vi promessas que eu não cumpri
Dores que eu não suavizei
Feridas que eu não curei
Lágrimas que eu não derramei
Eu vi mortes que eu não velei
Orações que eu não respondi
Portas que eu não abri
Portas que eu não fechei
Amantes que eu deixei para trás
E sonhos que eu não vivi
Eu vi tudo que foi oferecido para mim,
que eu não pude aceitar
Eu vi as cartas pelas quais desejei,
mas nunca recebi
Eu vi tudo que poderia ter acontecido,
mas que nunca acontecerá

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Ever since my house burnt down
I see the moon more clearly
I gazed upon all the Edens that have fallen in me
I saw Edens that I had held in my hands,
but let go
I saw promises I did not keep
Pains I did not sooth
Wounds I did not heal
Tears I did not shed
I saw deaths I did not mourn
Prayers I did not answer
Doors I did not open
Doors I did not close
Lovers I left behind
And dreams I did not live
I saw all that was offered to me,
that I could not accept
I saw the letters I wished for,
but never received
I saw all that could have been,
but never will be

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O desaparecimento do burro, por Nasrudin

Nasrudin amarrou seu burro e foi fazer compras no mercado.

Depois de um certo tempo, conhecidos seus vieram correndo para avisar:

"Nasrudin, seu burro desapareceu!", disseram.

Nasrudin ficou nitidamente aflito. Pensou um pouco, coçou a cabeça com cara de preocupado, e finalmente disse:

"Agradeço a Deus por não estar montado nele, senão eu teria sumido também."

Fique quieto, por Papaji

Que haja Paz entre todos os seres do Universo.
Que haja Paz. Que haja Paz.
Om Shanti, Shanti, Shanti.
Namaskar, Namaskar, Bem-vindo. Bem-vindo ao Satsang.

Fique quieto.
Fique quieto.
Fique quieto.

Eu tomo nesta manhã este assunto porque recebi algumas cartas do ocidente, daqueles que ouviram áudios e assistiram vídeos cassetes. Então, isto trouxe-me à falar nisto que eu frequentemente falo.

Um homem da Alemanha disse: "Apesar de nós não termos nos encontrado fisicamente, suas palavras no vídeo que eu vi - as palavras eram "fique quieto, fique quieto, fique quieto" - eu não posso nem falar do efeito dessas palavras, e o que aconteceu comigo após eu tê-las ouvido. Aconteceu esta quietude da qual eu nunca havia lido em nenhum livro, que eu tenho buscado por toda minha vida." E ele disse: "Os professores também não se utilizam dessa palavra, e isto é de tal força que teve um tremendo efeito sobre mim, e eu fiquei quieto".

Então nós falaremos disto, o que é esta quietude e como obtê-la ou praticá-la.

Primeiramente, há uns sete mil anos atrás, Arjuna perguntou a Krishna: "Como aquietar a mente? Ela é exatamente como o vento e não se pode pegá-la com as mãos, ela é tão turbulenta. Como controlá-la, como aquietá-la?" Então a resposta de Krishna foi muito simples: "Isto pode ser conseguido com desapego e prática."

Estas duas palavras são muito importantes.

Desapego, ou Vairagya. Então como o desapego pode vir facilmente? Todas as pessoas, qualquer uma, quer desfrutar dos objetos dos sentidos. Isso envolve todos; todos os seres estão envolvidos em gozar dos sentidos. Talvez vendo, ouvindo, cheirando, tocando, saboreando...

Então como desapegar nossa mente destas coisas? E como isto pode trazer quietude? Quando você souber que todos estes objetos não lhe trazem nenhum descanso ou paz. Então, mais e mais, pense nisto: "isto, que eu tanto gosto, não me dá real satisfação". Novamente, eu quero repetir; novamente, eu quero repetir; mas eu ainda não consegui paz. Agora você está criando uma espécie de desgosto para com isso, para com esses objetos. Agora você irá querer desapegar-se dessa coisas, porque elas não lhe deram paz ou relaxamento.

Um santo Telegu, um santo-poeta muito famoso de 500 anos atrás. Seu nome era Tyagaraja. As pessoas que se interessam por música conhecem muito bem esse nome, Tyagaraja, o rei dos cantores, o rei dos músicos. Ele também disse "sianta malaika sowkya malaidu", isto é em Telegu. "Quando não há quietude, nem o reinado todo pode trazer-lhe felicidade". O que ele diz é que quando nós sabemos que os objetos sensoriais não vão trazer-nos permanente felicidade nós vamos lentamente retirando nossas mentes desses objetos.

Continuamente, até nos Vedas isto é declarado, "yatra yatra manayadhi, tatra tatra samadhyd" — sempre que a mente entra em contato com objetos sensoriais, traga-a de volta, traga-a de volta para a paz, traga-a de volta para a quietude. Acalme-a, onde quer que ela for, sempre que ela for, seja muito cuidadoso e traga-a de volta, porque você tem visto que estes objetos sensoriais não trazem paz para você.

Portanto, esta é a Abhyasa, a prática, que Krishna falou a Arjuna. Desapegue, onde quer que a mente vá, separe-a dos respectivos objetos sensoriais, denovo e denovo. Então, lado a lado, isto agora é desapego e, lado a lado, o desejo pela sabedoria de Brahman e a liberdade, o desejo por liberdade, ambos devem estar correndo juntos. Desapegue-se dessas coisas que não são permanentes e descanse no que é permanente, sempre.

Então estes devem correr juntos, ambos. Desejo por liberdade e desapego dos sentidos. E seu foco nisso, em Brahman, no desejo pela realização da iluminação, "aqui e depois" refletindo sempre no "aqui e aqui"; há o desejo, então deseje uma vez mais, e mais uma vez desde que esse desejo tenha vindo à sua mente.

Você deve ter despendido milhões de anos para que esse desejo por liberdade tenha surgido em você. Então ouça e reflita sempre sobre isto, medite nisto. Este processo precisa continuar. Sempre. Porque algumas pessoas dizem: "O que acontecerá quando nós retornarmos para casa? Aqui nós estamos bem, porque é o que nós ouvimos todo dia".

A reflexão deve continuar, sempre. Portanto, sente-se onde quer que esteja, medite no Eu, em Brahman, na Verdade, na Paz, em Shanti. Então sempre você estará envolvido com isto. Entre amigos você também fala sobre isto. Esta é a forma que você deve expender seu tempo neste Universo. E aqueles que não conseguem seguir este caminho terão que esperar. Aqueles que instantaneamente captam este instante, eles têm uma tremenda montanha tão larga quanto as montanhas do Himalaia; estes são os méritos de vir ao Satsang.

E aqueles que estão aqui e querem escapar e ir a algum outro lugar - isto significa que em suas prévias vidas algo não foi muito bom - são necessidades do Karma, que os levarão a um próximo nascimento. Esta é a causa deles escaparem do Satsang; alguns querem ir embora, para seus centros anteriores; isto é o que eu estou ouvindo. Lá eles encontraram muita paz, muita felicidade, muita alegria e muito amor dos seus amigos. Então eu aconselho-os: "vão embora".

Este lugar, este Satsang não é para eles. Eu não sinto falta deles. Este é o peso do karma. Eles devem trabalhar um pouco mais, mais algumas encarnações. Estas pessoas que estão aqui no Satsang - e não é a primeira vez que eles vêem para Lucknow - eles já tem seus méritos, já tiveram milhares de encarnações seja lá onde estiveram. Isso é que os trazem para sentar aqui em Satsang. Talvez sejam muito poucos, mas não tem importância. Os outros terão que esperar. Por isso que isto não tem funcionado, entende?

Todos os santos têm declarado que você precisa de karma, bons karmas, realizações, e hoje você vem aqui para o Satsang para aquietar-se. Até Buddha teve, ele mesmo disse, milhares de encarnações. Ele falou sobre suas muitas encarnações para Ananda. Então, desta vez, em sua última vida finalmente, quando ele nasceu como Gautama, como Siddharta, ele decidiu intantaneamente ficar quieto. Uma visita fora do templo: doenças, velhice, morte, foi o suficiente.

Isto é o que eu falo de desapego dos prazeres sensoriais. Uma volta por aí, e imediatamente a decisão: "Não, eu não quero este tipo de vida". E retorna para casa. 

Agora, outra forma de desapego - isto é o que os santos tem falado - que é o melhor apego para os homens: casa, esposa, filho... isto é tudo. O santo Tukaram disse: "Observe o apego: casa, esposa, filho". São todo tipo de apego. Ele fala da esposa... não há maior apego para um homem. E para a mulher: o marido; a mesma coisa. A prosperidade, ou como voce chamar isso: casa, desejo pelo mundo, Sansara. O filho, o maior desejo do homem, para continuar sua linhagem. Então essas as três palavras mencionadas por Tukaram que compreendem toda a coisa.

Assim como Buddha acordou, retorne. Ele viu a natureza da vida, afastou-se dos apegos: esposa, filho, palácio e saiu afora. Fique quieto agora, embaixo da Árvore Bodhi... fique quieto. Isso foi o que Buddha experenciou nesta vida e ele estava livre. Isto é ficar quieto.

Kabir, outro santo-poeta tambem disse: "Acalme sua mente, sua fala, seu intelecto e depois..."

Que assunto! (risada)

Papaji
Setembro de 1992, Satsang em Lucknow

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Abra seus olhos e mantenha-os abertos, por Satyaprem

Existem muitos mal entendidos, tudo o que é dito pode ser adaptado.

Não adapte, olhe!

A única coisa que lhe resta, se você realmente quer libertar-se do engano, é abrir os olhos.

No sonho que você vive, de olhos fechados, você é um personagem com um destino obscuro; um personagem regulado por uma trama de perdas e ganhos.

O tempo todo está em pauta se você está se dando bem ou se dando mal; se vai dar tudo certo ou se vai dar tudo errado.

Este é o drama do personagem.

Isso é estar de olhos fechados.

E não precisa despertar em seu personagem a preocupação ativa de abrir os olhos de outrem.

Abra seus próprios e isso será suficiente!

Abra seus olhos e mantenha-os abertos.

Isso irá contagiar quem estiver próximo, na mesma vibração, pois não existe distância física nisso que estou apresentando.

A distância física faz parte do mundo dos olhos fechados.

Quando abre os olhos, se dá conta que a distância física é ilusória.

Ela faz parte da tragédia.

Na comédia, você descobre que, se tudo é você, não tem como haver distância física entre você e você mesmo; afinal, não tem nada, nem ninguém que não seja você.

Existe uma combustão espontânea, mesmo sem nenhuma proximidade física, porque existe um campo vibratório.

Satyaprem - Diário
Brasil, 24/11/2011

http://www.satyaprem.com/diario.asp

O contrabando, por Nasrudin

Volta e meia, Nasrudin atravessava a fronteira entre a Pérsia e a Grécia montado no lombo de um burro.

Toda vez passava com dois cestos cheios de palha e voltava sem eles, arrastando-se a pé. Toda vez o guarda procurava por contrabando. Nunca o encontrou.

- "O que é que você transporta, Nasrudin?"

- "Sou contrabandista."

Anos mais tarde, com uma aparência cada vez mais próspera, Nasrudin mudou-se para o Egito. Lá encontrou um daqueles guardas de fronteira.

- "Diga-me, Mullá, agora que você está fora da jurisdição grega e persa, instalado por aqui nesta vida boa - o que é que você contrabandeava, que nunca conseguimos pegar?"

- "Burros!"

Isso não é problema meu, conto zen

Um mestre Zen estava caminhando por uma rua com seu discípulo.

Eis que, então, um homem veio correndo por trás e o golpeou duramente. O mestre caiu.

Logo se levantou e voltou a caminhar na mesma direção na qual estava indo antes, sem nem ao menos olhar para trás. 

Um discípulo estava com o mestre. Ele ficou simplesmente chocado.

Ele disse: "Quem é esse homem? O que significa isso? Se a gente vive desta maneira, qualquer um pode vir e nos matar. E você nem ao menos olhou para aquela pessoa, quem é ela, e por que ela fez isso?"

O mestre disse: "Isso é problema dela, não meu."

Ego, o falso centro; por Osho

O primeiro ponto a ser compreendido é o ego.

Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso.

Nascimento significa vir a este mundo, o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce neste mundo. Ela abre seus olhos, vê aos outros. O "outro" significa o tu. Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Este também é o outro, também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo.

É desta maneira que a criança cresce.

Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, tu, ela se torna consciente de si mesma. Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que esta pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se ela aprecia a criança, se diz: "Você é bonita", se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Agora um ego está nascendo. Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ela não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensam a seu respeito.

E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida; sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é o ego. Isso também é um reflexo.

Primeiro a mãe - e mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas. O ego é um fenômeno acumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não. O verdadeiro pode ser conhecido somente através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ela é uma disciplina. O verdadeiro pode ser conhecido somente através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.

O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá para a escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estão adicionando algo ao seu ego, e todos estão tentando modificá-lo, de tal forma que você não se torne um problema para a sociedade.

Eles não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade.

A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser. Ela não está interessada no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhe que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão. Assim, estão tentando dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajustará à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro.

É por isso que colocamos os criminosos nas prisões - não que eles tenham feito alguma coisa errada, não que ao colocá-los nas prisões iremos melhorá-los, não. Eles simplesmente não se ajustam. Eles criam problemas. Eles têm certos tipos de egos que a sociedade não aprova. Se a sociedade aprova, tudo está bem.

Um homem mata alguém - ele é um assassino. E o mesmo homem, durante a guerra, mata milhares - e torna-se um grande herói. A sociedade não está preocupada com o homicídio, mas o homicídio deveria ser praticado para a sociedade - então tudo está bem. A sociedade não se preocupa com moralidade.

Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade.

Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao autoconhecimento. A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível. E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que este é o seu centro, o ego dado pela sociedade.

Uma criança volta para casa - se ela foi o primeiro aluno de sua classe, a família inteira fica feliz. Você a abraça e a beija, e você coloca a criança no colo e começa a dançar e diz: "Que linda criança! Você é um motivo de orgulho para nós." Você está dando um ego a ela. Um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, um fiasco - ela não pode passar, ou ela tirou o último lugar - então ninguém a aprecia e a criança sente-se rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado. O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. É por isso que você está continuamente pedindo atenção.

Ouvi contar:

Mulla Nasrudin e sua esposa estavam saindo de uma festa, e Mulla disse:

"Querida, alguma vez alguém já lhe disse que você é fascinante, linda, maravilhosa?"

Sua esposa sentiu-se muito, muito bem, ficou muito feliz. Ela disse: "Eu me pergunto por que ninguém jamais me disse isso."

Nasrudin disse: "Mas então de onde você tirou essa idéia?"

Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta. É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro.

Esse centro é falso, porque você contém o seu centro verdadeiro. Este não é da conta de ninguém. Ninguém o modela, você vem com ele. Você nasce com ele. Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Este é o eu. E o outro centro, que lhe é dado pela sociedade - o ego. Ele é algo falso - e é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente então a sociedade o aprecia. Você tem que caminhar de uma certa maneira: você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente então a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, quem você é. Os outros lhe deram a idéia.

Essa idéia é o ego.

Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a menos que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E lembre-se: vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará despedaçado, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo, quando todos os limites se dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos.

Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas.

Ouvi dizer:

Uma criancinha estava visitando seus avós. Ela tinha apenas quatro anos de idade. De noite, quando a avó a estava fazendo dormir, ela de repente começou a chorar e a gritar:

"Eu quero ir para casa. Estou com medo do escuro."

Mas a avó disse: "Eu sei muito bem que em sua casa você também dorme no escuro; eu nunca vi a luz acesa. Então por que você está com medo aqui?"

O menino disse: "Sim, é verdade - mas aquela é a minha escuridão. Esta escuridão é completamente desconhecida."

Até mesmo com a escuridão você sente: "Esta é minha."

Do lado de fora - uma escuridão desconhecida. Com o ego você sente: "Esta é a minha escuridão." Pode ser problemática, pode criar muitos tormentos, mas ainda assim, é minha. Alguma coisa em que se segurar, alguma coisa em que se agarrar, alguma coisa sob os pés; você não está em um vácuo, não está em um vazio. Você pode ser infeliz, mas pelo menos você é.

Até mesmo o ser infeliz lhe dá uma sensação de "eu sou". Afastando-se disso, o medo toma conta; você começa a sentir medo da escuridão desconhecida e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte do seu ser... É o mesmo que penetrar em uma floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva. Aqui tudo está bem; você planejou tudo. Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que você possa se sentir em casa ali.

E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo. Além da cerca você é, tal como dentro da cerca você é - e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto.

Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo para o desconhecido.

Por um certo tempo, todos os limites ficarão perdidos.

Por um certo tempo, você vai sentir-se atordoado.

Por um certo tempo, você vai sentir-se muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto.

Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas.

Esta é a sua alma, o eu.

Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos; nasce uma nova ordem. Mas esta não é a ordem da sociedade - é a própria ordem da existência. É o que Buda chama de Dharma, Lao Tsé chama de Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência.

Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas. A diferença é a mesma que existe entre uma flor verdadeira e uma flor de plástico ou de papel. O ego é uma flor de plástico, morta. Não é uma flor, apenas parece com uma flor. Até mesmo lingüisticamente, chamá-la de flor está errado, porque uma flor é algo que floresce. E essa coisa de plástico é apenas uma coisa e não um florescer. Ela está morta. Não há vida nela. Você tem um centro que floresce dentro de você. Por isso os hindus o chamam de lótus - é um florescer. Chamam-no de o lótus das mil pétalas. Mil significa infinitas pétalas. O centro floresce continuamente, nunca para, nunca morre. Mas você está satisfeito com um ego de plástico. Existem algumas razões para que você esteja satisfeito. Com uma coisa morta, existem muitas vantagens. Uma é que a coisa morta nunca morre. Não pode - nunca esteve viva. Assim você pode ter flores de plástico, e de certa forma elas são boas. Elas são permanentes; não são eternas, mas são permanentes. A flor verdadeira, a flor que está lá fora no jardim, é eterna, mas não é permanente. E o eterno tem uma maneira própria de ser eterno. A maneira do eterno é nascer muitas e muitas vezes... e morrer. Através da morte, o eterno se renova, rejuvenesce.

Para nós, parece que a flor morreu - ela nunca morre. Ela simplesmente troca de corpo, assim está sempre fresca. Ela deixa o velho corpo e entra em um novo corpo. Ela floresce em algum outro lugar, nunca deixa de estar florescendo.

Mas não podemos ver a continuidade porque a continuidade é invisível. Vemos somente uma flor, outra flor; nunca vemos a continuidade. Trata-se da mesma flor que floresceu ontem. Trata-se do mesmo sol, mas em um traje diferente.

O ego tem uma certa qualidade - ele está morto. É de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não o precisa procurar; a busca não é necessária para ele. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente uma parte da multidão. Você é apenas uma turba. Quando você não tem um centro autêntico, como você pode ser um indivíduo? O ego não é individual. O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu.

E por isso você é tão infeliz.

Com uma vida de plástico, como você pode ser feliz? Com uma vida falsa, como você pode ser extático e bem-aventurado? E esse ego cria muitos tormentos, milhões deles. Você não pode ver, porque se trata da sua escuridão. Você está em harmonia com ela. Você nunca reparou que todos os tipos de tormentos acontecem através do ego? Ele não o pode tornar abençoado; ele pode somente torná-lo infeliz.

O ego é o inferno.

Sempre que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego continua encontrando motivos para sofrer.

Uma vez eu estava hospedado na casa de Mulla Nasrudin. A esposa estava dizendo coisas muito desagradáveis a respeito de Mulla Nasrudin, com muita raiva, aspereza, agressividade, muito violenta, a ponto de explodir. E Mulla Nasrudin estava apenas sentado em silêncio, ouvindo. Então, de repente, ela se voltou para ele e disse: "Então, mais uma vez você está discutindo comigo!" Mulla disse: "Mas eu não disse uma única palavra!"

A esposa replicou: "Sei disso, mas você está ouvindo muito agressivamente." 

Você é um egoísta, como todos são. Alguns são muito grosseiros, evidentes, e estes não são tão difíceis. Outros são muito sutis, profundos, e estes são os verdadeiros problemas.

O ego entra em conflito com outros continuamente porque cada ego está extremamente inseguro de si mesmo. Tem que estar - ele é uma coisa falsa. Quando você nada tem nas mãos, mas acredita ter algo, então haverá um problema. Se alguém disser: "Não há nada", imediatamente começa a briga porque você também sente que não há nada. O outro o torna consciente desse fato. O ego é falso, ele não é nada.

E você também sabe isso.

Como você pode deixar de saber isso? É impossível! Um ser consciente - como pode ele deixar de saber que o ego é simplesmente falso? E então os outros dizem que não existe nada - e sempre que os outros dizem que não existe nada, eles batem numa ferida, eles dizem uma verdade - e nada fere tanto quanto a verdade. Você tem que se defender, porque se você não se defende, se não se torna defensivo, onde estará você?

Você estará perdido. A identidade estará rompida.

Assim, você tem que se defender e lutar - este é o conflito. Um homem que alcança o eu nunca se encontra em conflito algum. Outros podem vir e entrar em choque com ele, mas ele nunca está em conflito com ninguém.

Aconteceu de um mestre Zen estar passando por uma rua. Um homem veio correndo e o golpeou duramente. O mestre caiu. Logo se levantou e voltou a caminhar na mesma direção na qual estava indo antes, sem nem ao menos olhar para trás. Um discípulo estava com o mestre. Ele ficou simplesmente chocado.

Ele disse: "Quem é esse homem? O que significa isso? Se a gente vive desta maneira, qualquer um pode vir e nos matar. E você nem ao menos olhou para aquela pessoa, quem é ela, e por que ela fez isso?"

O mestre disse: "Isso é problema dela, não meu."

Você pode entrar em choque com um iluminado, mas esse é seu problema, não dele. E se você fica ferido nesse choque, isso também é problema seu. Ele não o pode ferir. É como bater contra uma parede - você ficará machucado, mas a parede não o machucou.

O ego sempre está procurando por algum problema. Por quê?

Porque se ninguém lhe dá atenção o ego sente fome. Ele vive de atenção.

Assim, mesmo se alguém estiver brigando e com raiva de você, mesmo isso é bom, pois pelo menos você está recebendo atenção. Se alguém o ama, isso está bem. Se alguém não o está amando, então até mesmo a raiva servirá. Pelo menos a atenção chega até você. Mas se ninguém estiver lhe dando qualquer atenção, se ninguém pensa que você é alguém importante, digno de nota, então como você vai alimentar o seu ego?

A atenção dos outros é necessária.

Você atrai a atenção dos outros de milhões de maneiras; veste-se de um certo jeito, tenta parecer bonito, comporta-se bem, torna-se muito educado, transforma-se. Quando você sente o tipo de situação que está ocorrendo, você imediatamente se transforma para que as pessoas lhe dêem atenção. Esta é uma forma profunda de mendicância. Um verdadeiro mendigo é aquele que pede e exige atenção. Um verdadeiro imperador é aquele que vive em sua interioridade; ele tem um centro próprio, não depende de mais ninguém.

Buda sentado sob sua árvore Bodhi... Se o mundo inteiro de repente vier a desaparecer, isso fará alguma diferença para Buda? - nenhuma. Não fará diferença alguma, absolutamente. Se o mundo inteiro desaparecer, não fará diferença alguma porque ele atingiu o centro.

Mas você, se sua esposa foge, se ela pede divórcio, se ela o deixa por outro, você fica totalmente em pedaços - porque ela lhe dava atenção, carinho, amor, estava sempre à sua volta, ajudando-o a sentir-se alguém. Todo o seu império está perdido, você está simplesmente despedaçado. Você começa a pensar em suicídio. Por quê? Por que, se a esposa o deixa, você deveria cometer suicídio? Por que, se o marido a deixa, você deveria cometer suicídio? Porque você não tem um centro próprio. A esposa estava lhe dando o centro; o marido estava lhe dando o centro.

É assim que as pessoas existem. É assim que as pessoas se tornam dependentes umas das outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo. Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela primeira vez, um mestre; ela deixa de ser uma escrava. Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que é o falso centro que entrou em choque com alguém.

Você esperava algo e isso não aconteceu. Você esperava algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão.

As causas não estão fora de você.

A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta:
Quem está me tornando infeliz?
Quem está causando minha raiva?
Quem está causando minha angústia?

E se olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e olhe para dentro. A origem de toda a infelicidade, a raiva, a angústia, está oculta dentro de você; é o seu ego.

E se você encontrar a origem, será fácil ir além dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você vai preferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido.

E lembre-se, não há necessidade de abandonar o ego.

Você não o pode abandonar.

Se você o tentar abandonar, estará apenas conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: "Tornei-me humilde".

Não tente ser humilde. Isso é o ego novamente; às escondidas, mas não morto.

Não tente ser humilde.

Ninguém pode tentar ser humilde e ninguém pode criar a humildade através do próprio esforço - não. Quando o ego já não existe, uma humildade vem até você. Ela não é uma criação. É uma sombra do seu verdadeiro centro.

E um homem realmente humilde não é nem humilde nem egoísta. Ele é simplesmente simples.

Ele nem ao menos se dá conta de que é humilde.

Se você se dá conta de que é humilde, o ego continua existindo. Olhe para as pessoas humildes... Existem milhões que acreditam ser muito humildes. Eles se curvam com facilidade, mas observe-as - elas são os egoístas mais sutis. Agora a humildade é a sua fonte de alimento. Elas dizem: "Eu sou humilde", e olham para você esperando que você as valorize. Gostariam que você dissesse: "Você é realmente humilde, na verdade, você é o homem mais humilde do mundo; ninguém é tão humilde quanto você." E então observe o sorriso que surge em seus rostos.

O que é o ego? O ego é uma hierarquia que diz: "Ninguém se compara a mim." Ele pode se alimentar da humildade - "Ninguém se compara a mim, sou o homem mais humilde."

Aconteceu certa vez:

Um faquir - um mendigo - estava orando em uma mesquita, de madrugada, enquanto ainda estava escuro. Era um dia religioso qualquer para os muçulmanos, e ele estava orando e dizendo:
"Eu não sou ninguém, eu sou o mais pobre dos pobres, o maior pecador entre os pecadores."

De repente havia mais uma pessoa orando. Era o imperador daquele país, e ele não havia percebido que havia mais alguém ali orando - estava escuro e o imperador também estava dizendo:

"Eu não sou ninguém. Eu não sou nada. Eu sou apenas um vazio, um mendigo à sua porta."

Quando ouviu que mais alguém estava dizendo a mesma coisa, o imperador disse:

"Pare! Quem está tentando me superar? Quem é você? Como ousa dizer, diante do imperador, que você não é ninguém, quando ele está dizendo que não é ninguém?"

É assim que o ego funciona. Ele é tão sutil! Suas maneiras são tão sutis e astutas; você deve estar muito, muito alerta, somente então você o perceberá. Não tente ser humilde. Apenas tente ver que todo o tormento, toda a angústia vem através dele.

Apenas observe! Não há necessidade de o abandonar. Você não o pode abandonar. Quem o abandonará? Então o abandonador se tornará o ego. Ele sempre volta. Faça o que fizer, fique de fora, olhe, e observe. Qualquer coisa que você faça - modéstia, humildade, simplicidade - nada vai ajudar. Somente uma coisa é possível, e esta é simplesmente observar e ver que o ego é a origem de toda a infelicidade. Não diga isso. Não repita isso.

Observe.

Porque se eu disser que ele é a origem de toda a infelicidade e você repetir isso, então será inútil. Você tem que chegar a esse entendimento. Sempre que você estiver infeliz, apenas feche os olhos e não tente encontrar alguma causa externa. Tente perceber de onde está vindo essa miséria. Ela está vindo do seu próprio ego.

Se você continuamente percebe e compreende, e a compreensão de que o ego é a causa chega a se tornar profundamente enraizada, um dia você repentinamente verá que ele desapareceu. Ninguém o abandona - ninguém o pode abandonar. Você simplesmente vê; ele simplesmente desapareceu, porque a própria compreensão de que o ego é a causa de toda a infelicidade, se torna o abandonar. A própria compreensão significa o desaparecimento do ego. E você é tão brilhante em perceber o ego nos outros. Qualquer um pode ver o ego do outro. Mas quando se trata do seu, surge o problema - porque você não conhece o território, você nunca viajou por ele. Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem que passar através desse território do ego. O falso tem que ser entendido como falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a origem da miséria - então ela simplesmente desaparece.

Quando você sabe que ele é o veneno, ele desaparece.

Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece.

Quando você sabe que este é o inferno, ele desaparece.

E então você nunca diz: "Eu abandonei o ego." Então você simplesmente ri de toda esta história, dessa piada, pois você era o criador de toda a infelicidade.

Eu estava olhando alguns desenhos de Charlie Brown. Em uma cena ele está brincando com blocos, construindo uma casa com blocos de brinquedo. Ele está sentado no meio dos blocos, levantando as paredes. Chega um momento em que ele está cercado: ele levantou paredes em toda a volta. E ele começa a gritar:

"Socorro, socorro!"

Ela fez a coisa toda! Agora ele está cercado, preso. Isso é infantil, mas é justamente o que você fez. Você fez uma casa em toda a sua volta, e agora você está gritando: "Socorro, socorro!" E o tormento se torna um milhão de vezes maior - porque há os que socorrem, estando eles próprios no mesmo barco.

Aconteceu de uma mulher muito atraente ir ao psiquiatra pela primeira vez. O psiquiatra disse: "Aproxime-se, por favor."

Quando ela chegou mais perto, ele simplesmente deu um salto, abraçou e beijou a mulher. Ela ficou chocada.

Então ele disse:

"Agora sente-se. Isso resolve o meu problema, agora, qual é o seu?"

O problema se multiplica, porque há pessoas que querem ajudar, estando no mesmo barco. E elas gostariam de ajudar, porque quando você ajuda alguém, o ego se sente muito bem, porque você é um grande salvador, um grande guru, um mestre; você está ajudando tantas pessoas! Quanto maior a multidão de seus seguidores, melhor você se sente.

Mas você está no mesmo barco - você não pode ajudar.

Pelo contrário, você prejudicará.

Pessoas que ainda têm os seus próprios problemas não podem ser de muita ajuda. Somente alguém que não tenha problemas próprios o pode ajudar. Somente então existe a clareza para ver, para ver através de você. Uma mente que não tem problemas próprios pode vê-lo, você se torna transparente. Uma mente que não tem problemas próprios pode ver através de si mesma; por isso ela torna-se capaz de ver através dos outros.

No ocidente existem muitas escolas de psicanálise, muitas escolas, e nenhuma ajuda está chegando às pessoas, mas em vez disso, causam danos. Porque as pessoas que estão ajudando as outras, ou tentando ajudar, ou pretendendo ser de ajuda, encontram-se no mesmo barco.

É difícil ver o próprio ego.

É muito fácil ver o ego dos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar.

Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente observe.

Não tenha pressa de o abandonar, simplesmente observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Não existe outra maneira. Você não o pode abandonar prematuramente.

Ele cai exatamente como uma folha seca.

A árvore não está fazendo nada - apenas uma brisa, uma situação, e a folha seca simplesmente cai. A árvore nem mesmo percebe que a folha seca caiu. Ela não faz qualquer barulho, ela não faz qualquer anúncio - nada. A folha seca simplesmente cai e se despedaça no chão, apenas isso. Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo. Ela pousa no chão e morre por si mesma. Você não fez nada, portanto você não pode afirmar que você a deixou cair. Você vê que ela simplesmente desapareceu, e então o verdadeiro centro surge.

E este centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a verdade, ou como o quiser chamar.

Ele é inominável, assim todos os nomes são bons.

Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir.

Extraído do livro "Além das Fronteiras da Mente"


A mulher ideal, por Nasrudin

Nasrudin estava proseando com um conhecido, que lhe indagou:

- "Mullá, responda-me, você nunca pensou em se casar?"

- "Sim, claro que já. Quando eu era jovem, determinei-me a achar o meu par perfeito."

"Cruzei o deserto, cheguei em Damasco, e conheci uma mulher belíssima e espiritualmente muito evoluída; mas as coisas triviais, do dia a dia, a atrapalhavam."

"Mudei de rumo e lá estava eu, em Isfahan; ali pude conhecer uma mulher com dom para as coisas materiais, da vida caseira, e além disso se mostrou muito espiritualizada. Porém, carecia de beleza física."

"Pensei: o que fazer? E resolvi ir ao Cairo. Lá cheguei e logo fui apresentado a uma linda jovem, que também era religiosa, boa cozinheira e conhecedora dos afazeres do lar. Ali estava a minha mulher ideal."

- "Entretanto você não se casou com ela. Porquê?"

- "Ah, meu prezado amigo, ela também estava buscando o homem ideal!"

Um passeio de barco, por Nasrudin

Nasrudim às vezes levava as pessoas para viajar em seu barco.

Um dia, um pedagogo contratou-o para transportá-lo ao outro lado de um rio muito largo.

Assim que se lançaram na água, Nasrudin alertou:

- "Logo logo vai tá chovendo..."

- "Você nunca estudou gramática?" - retrucou o erudito.

- "Não, nunca estudei" - respondeu o Mullá.

- "Neste caso, metade da sua vida foi desperdiçada" - replicou com desdém o erudito.

Nasrudin não disse nada e continuou a remar. Logo desabou uma terrível tempestade, e o pequeno e desorientado barco do Mullá começou a encher de água.

Ele se inclinou para o companheiro e perguntou:

- "Alguma vez você aprendeu a nadar?"

- "Não" - respondeu o pedante.

- "Neste caso, caro mestre, toda sua vida foi desperdiçada, pois estamos afundando!"

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A linguagem do louco, por Nasrudin

Um místico deteve Nasrudin na rua e apontou para o céu, querendo dizer:

- “Existe apenas uma verdade, que tudo cobre”.

Dessa vez, Nasrudin vinha acompanhado de um erudito que andava procurando o fundamento lógico do sufismo. O homem disse para si mesmo:

- “Este homem está louco. Nasrudin deve tomar precauções e fazer alguma coisa contra ele”.

Efetivamente, o Mulla revistou a mochila e dela tirou um pedaço de corda.

O erudito pensou:

- “Excelente! Poderemos agarrar o louco e amarrá-lo, caso ele se torne violento”.

O “louco”, olhando a corda, riu e saiu andando.

- "Muito bem feito" - disse o erudito; - "você nos salvou dele."

- "Na verdade, meu gesto apenas significou", disse Nasrudin:

- “... e a humanidade tenta alcançar esse ‘céu’ por métodos tão inadequados quanto esta corda!”

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Afaste-se da multidão, por Osho

Ninguém é o que, por natureza, deveria ser. A sociedade, a cultura, a religião, a educação, tudo isso conspira contra crianças inocentes. Elas têm nas mãos todo o poder - a criança é indefesa e dependente, por isso o que quer que elas queiram fazer dela, conseguem. Elas não permitem que nenhuma criança cresça e cumpra seu destino natural. Todos os seus esforços visam a um único objetivo: fazer com que os seres humanos tornem-se alguma coisa útil. Se deixarem que a criança cresça à vontade, como saberão se ela servirá aos seus interesses escusos? A sociedade não está preparada para correr esse risco. Ela apodera-se da criança e começa a moldá-la para que se torne algo socialmente útil.

Num certo sentido, ela mata a alma da criança e dá a ela uma falsa identidade, de forma que ela nunca sinta falta da sua alma, do seu ser. A falsa identidade é um substituto. Mas esse substituto só é útil no grupo que lhe deu essa falsa identidade. No momento em que você está sozinho, o falso começa a se desintegrar e o real reprimido começa a se exprimir. Por isso o medo de ficar sozinho.

Ninguém quer ficar sozinho. Todo mundo quer fazer parte de um grupo - não só de um, mas de muitos. A pessoa pertence a um grupo religioso, a um partido político, a um Rotary Club... e existem muitos outros grupos para se pertencer. Ela quer ter apoio 24 horas por dia porque o falso, sem apoio, não consegue se sustentar. No momento em que ela está sozinha, começa a sentir uma estranha loucura. Por muitos anos você acreditou que era uma certa pessoa e então, de repente, num momento de solidão, começa a sentir que não é essa pessoa. Isso dá medo: quem sou eu, então?

E anos de depressão... levará algum tempo até que o real se expresse. A lacuna entre os dois costuma ser chamada pelos místicos de "a noite escura da alma" - uma expressão muito apropriada. Você não é mais o falso, mas ainda não é o verdadeiro. Você está no limbo, não sabe quem é.

No Ocidente, principalmente, o problema é até mais complicado, porque ali não se desenvolveu nenhum método para descobrir o real logo que possível e assim encurtar a noite escura da alma. O Ocidente não sabe nada sobre meditação. E a meditação é só um nome para se estar sozinho, em silêncio, esperando até que o real se firme. Não se trata de uma ação, é um relaxamento silencioso - porque o que quer que você "faça", isso virá da sua personalidade falsa... tudo o que você faz, há muitos anos, vem dela. É um velho hábito.

Os hábitos custam a morrer. Tantos anos vivendo com uma personalidade falsa, imposta por pessoas que você ama, que sempre respeitou... e elas não estão querendo fazer nada de mal a você. As intenções dessas pessoas eram boas, só lhes faltava discernimento. Elas não eram pessoas conscientes - seus pais, seus professores, os padres, os políticos - não eram pessoas conscientes, eram inconscientes. E até uma boa intenção nas mãos de uma pessoa inconsciente vira um veneno.

Por isso, sempre que está sozinho, surge um medo profundo - porque, de repente, o falso começa a desaparecer. E o novo leva um tempinho para se firmar, você o perdeu há tantos anos. Você terá que levar em consideração o fato de que precisa fazer uma ponte sobre essa lacuna de tantos anos.

Com medo - de que esteja se perdendo, perdendo o senso, a sanidade, a mente, tudo... porque o eu que os outros lhe deram é composto de todas essas coisas - é como se fosse focar louco. Imediatamente você começa a fazer algo só para ficar ocupado. Se não há ninguém por perto, pelo menos existe alguma ação, de forma que o falso possa ficar ocupado e não comece a desaparecer.

Por isso as pessoas acham que isso é mais difícil nas férias. Durante cinco dias elas trabalham, esperando que no final de semana possam relaxar. Mas o fim de semana é a pior hora do mundo - acontecem mais acidentes, mais gente se suicida, há mais assassinatos, mais roubos, mais estupros. Estranho... e essas pessoas ficaram cinco dias ocupadas e não houve nenhum problema. Mas, no fim de semana, tiveram uma chance, ou para fazer outra coisa ou para relaxar - mas relaxar é aterrorizante; a personalidade falsa desaparece. Continue ocupado, faça qualquer coisa idiota. As pessoas correm para a praia, pegam um congestionamento de quilômetros. E, se você perguntar a elas onde estão indo, vão dizer que estão querendo "fugir do tumulto da cidade" - e o tumulto todo está indo com elas! Estão indo para um lugar silencioso, solitário - todas ao mesmo tempo!

Na verdade, se tivessem ficado em casa, teriam mais silêncio e solidão - pois todos os idiotas teriam saído em busca de um lugar solitário. E estão correndo feito loucos, porque dois dias terminam rápido, eles têm que chegar - não pergunte onde!

Na praia, você vê... as pessoas ficam amontoadas, nem um supermercado fica tão lotado. E, o que é estranhíssimo, as pessoas se sentem muito à vontade, tomando banho de sol. Dez mil pessoas numa pequena praia tomando banho de sol, relaxando. A mesma pessoa na mesma praia, se estivesse sozinha, não conseguiria relaxar. Mas ela sabe que milhares de pessoas estarão relaxando junto dela. As mesmas pessoas estavam no escritório, as mesmas pessoas estavam nas ruas, as mesmas pessoas estavam no supermercado, agora as mesmas pessoas estão na praia.

A multidão é essencial para que o falso eu exista. No momento em que ele está sozinho, começa a enfraquecer. É por isso que é preciso entender um pouquinho de meditação.

Não fique preocupado, pois aquilo que corre o risco de desaparecer é muito bom que desapareça. Não faz sentido se agarrar a isso - não é seu, não é você.

Você é aquele que fica quando o falso se vai e o novo, o inocente, o despoluído emerge em seu lugar. Ninguém mais pode responder à pergunta "Quem sou eu?" - você poderá.

Todas as técnicas de meditação servem para ajudar a destruir o falso. Elas não dão a você o real - o real não é algo que se dê.

Aquilo que pode ser dado não pode ser real. O real você já tem; só o falso tem de ser eliminado.

Isso pode ser dito de um jeito diferente: o Mestre tira de você coisas que você na verdade não tem, e lhe dá o que você realmente tem.

Meditação é só a coragem de ficar em silêncio e sozinho. Devagar, muito devagar, você começa a sentir uma nova qualidade em si mesmo, uma nova vivacidade, uma nova beleza, uma nova inteligência - que não é emprestada de ninguém; ela está crescendo dentro de você. Ela tem raízes na sua existência. E, se você não for covarde, ela fluirá e florescerá.

Só os bravos, os corajosos, as pessoas de fibra podem ser religiosas. Não as que frequentam a Igreja - essas são covardes. Não os hindus, não os muçulmanos, não os cristãos - estes são contra a busca. A mesma multidão, ela está tentando fazer com que a falsa identidade fique mais consolidada.

Você nasceu, veio para este mundo com vida, com consciência, com uma tremenda sensibilidade. Basta olhar uma criança pequena - olhe nos olhos dela, no frescor. Tudo isso tem sido encoberto por uma falsa personalidade.

Não é preciso ficar com medo. Você só pode perde aquilo que tem de ser perdido. E é bom que perca logo - pois, quanto mais tempo permanece, mais forte isso fica.

E não se sabe o dia de amanhã.

Não morra antes de ser autêntico.

Só essas poucas pessoas são afortunadas, aquelas que viveram de acordo com esse ser autêntico e morreram de acordo com ele - pois elas sabem que a vida é eterna e a morte é uma ficção.

Extraído do livro "Coragem: o prazer de viver perigosamente"


domingo, 20 de novembro de 2011

O monge e o escorpião, conto zen

Um monge e seus discípulos caminhavam pela estrada.

Quando passavam uma ponte, viram um escorpião sendo levado pelas águas.

O monge correu até a margem do rio e pegou o escorpidão com a mão para que pudesse colocá-lo na margem do rio, em segurança. Contudo, o animal picou ferozmente a mão do monge, que abriu a mão, gemendo e chorando de dor, deixando o escorpião cair nas águas novamente.

Mais uma vez, tornou a pegar o escorpião, agora com um galho que estava na beira do rio. Colocou-o na margem, em cima de uma pedra, e voltou para junto dos seus discípulos.

Eles haviam assistido a cena e o receberam perplexos.

"Mestre, deve estar doendo muito! Porque foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda! Picou a mão que o salvara! Não merecia sua compaixão!"

O monge ouviu tranqüilamente os comentários e respondeu: "Ele agiu conforme sua natureza, e eu de acordo com a minha."

O tesouro em casa, conto zen

Um dia, um jovem chamado Yang Fu deixou sua família e lar para ir a Sze-Chuan visitar o Bodhisattva Wu-Ji. Ele sonhou que junto àquele mestre poderia encontrar um grande tesouro de sabedoria.

Quando já se encontrava às portas da cidade, após uma longa viajem cheia de aventuras, encontrou um velho senhor.

Este lhe perguntou:

"Onde vais, jovem?"

"Vou estudar com Wu-Ji, o Bodhisattva." - respondeu o rapaz.

"Em vez de buscar um Bodhisattva, é mais maravilhoso encontrar Buddha."

Excitado com a perspectiva de encontrar o Grande Mestre, disse Yang Fu:

"Oh! Sabes onde encontrá-lo?!"

"Voltes para casa agora mesmo. Quando lá chegares, encontrarás uma pessoa usando uma manta e chinelos trocados, que lhe cumprimentará. Essa pessoa é o Buddha."

O rapaz pensou, aterrado: "Como posso retornar agora, quando estou às portas do meu objetivo? Eu teria que confiar muito no que este simples velho me diz".

Então Yang Fu teve uma forte intuição de que aquele simples homem à sua frente era alguém de grande sabedoria. Num impulso, voltou-se para a estrada, sem jamais ter encontrado Wu-Ji. Ele retornou o mais rápido que pode, ansioso pela vontade de encontrar Buddha.

Chegou em casa tarde da noite...

Sua amorosa mãe, em meio à alegria e pressa de abraçar o filho que retornava ao lar, cobriu-se de uma manta usada e calçou seus chinelos trocados.

Olhando para sua mãe desse modo, que vinha sorrindo e pronta a abraçá-lo, Yang Fu atingiu o Satori. 

Este era o maior tesouro.