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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Além do bem e do mal estar, por Dolano

(transcrição e tradução do vídeo "Beyond feeling good or bad")



Rashnu: Me desculpe, o meu inglês é muito ruim.

Dolano: Tudo bem, o meu também. (risadas) Então você deve entender o meu inglês.

Rashnu: Eu estou fazendo a meditação Vipassana diariamente pela manhã...

Dolano: Vipassana... observando a respiração?

Rashnu: Sim.

Dolano: Ok. Quanto tempo você faz isso? Quanto tempo fica sentado de manhã? Toda manhã em casa?

Rashnu: Vinte e cinco a trinta minutos.

Dolano: Todo dia antes de levantar?

Rashnu: Sim.

Dolano: É uma coisa muito boa de se fazer. Você gosta?

Rashnu: Sim, eu gosto.

Dolano: É uma ótima coisa a se fazer, não é?

Rashnu: Sim.

Dolano: É uma coisa realmente boa para começar o dia... muito linda!

Rashnu: O que eu sinto é que... um dia nós nos sentimos muito bem, todas as coisas estão indo conforme nossos desejos. No dia seguinte alguém faz ou fala alguma coisa para nós, e nós nos perturbamos. Depois de um ou dois dias novamente nos sentimos muito bem. O que está acontecendo? (risadas)

Dolano: (risada) Sim, eu sei como é... você está no caminho e o que você está fazendo... você tenta se sentir bem. Todos os dias você tenta se sentir bem. Você levanta pela manhã: “Ah, eu estou bem, estou próximo da iluminação porque hoje eu estou me sentindo realmente bem!” E você sempre se refere ao que você está sentindo.

E em outro momento você acorda e: “Ah, eu não me sinto bem!” Na verdade você tem algum desconforto no estômago. Você está comendo muito tarde e agora você tem este sentimento estranho no estômago e com isso maus pensamentos aparecem, uma situação perfeita para ter maus pensamentos. Porque você deveria se levantar, para início de conversa? A vida é tão sem sentido. Não é? (risadas) É com isso que você está ocupado porque você está no caminho, é o que você está fazendo no caminho... todos vocês querem se sentir bem.

Veja, eu não me importo se eu me sinto bem ou não. Eu nem mesmo percebo isso mais. Eu não me pergunto pela manhã: “eu me sinto bem?” (risadas) Eu nem mesmo pergunto. Porque eu perguntaria a mim mesma se eu me sinto bem ou mal? Você não conhece a força dos pensamentos? Agora eu me sinto bem, eu estou bem. Agora eu me sinto mal, eu estou mal.

Se você medita você deveria saber o que importa. Isso não tem nada a ver com sentimentos bons ou maus, você tem que ir mais profundo do que isso, entende? Você está vivendo no mundo dos apegos. Este organismo corpo-mente irá sempre se sentir bem em alguns momentos, e em outros se sentir mal. Iluminação não tem nada a ver com se sentir bem ou mal. Não tem nada a ver com isso. Claro que se a mente-corpo está liberada, você não irá mais se importar sobre se sentir bem ou mal, e por isso você nem deverá notar se está se sentindo mal. Ou bem! Você não irá notar, pois quem se importa?

Existem coisas acontecendo em Leela, apegos... você martela o dedo, você esqueceu a chave, você está procurando seus óculos... o dia todo parece como que se eu estivesse procurando apenas pelas minhas chaves e óculos. “Que vida estúpida estou levando. Odeio isto de eu todo dia procurando pelos meus óculos!”

Estes são apegos. Você se apega à procura dos seus óculos e você machuca o seu dedo e isso dói... o que mais... você derrama seu chá e tem que limpar, e seria melhor ter ficado na cama. Alguns momentos eu vou ao meu computador e aperto um botão e tudo acaba errado. Se eu não tivesse levantado estaria tudo bem com o meu computador. O dia todo eu me ocupei fazendo o computador voltar a funcionar, foi pra isso que eu levantei! (risadas)

Você vê? Você está focado no que você pensa, no que você sente e no que você faz. Você fica focado nisso e você deixa passar a vida propriamente dita. Isto é sobre a verdadeira vida. Esta brincadeira de Leela que você vê... isto não é um milagre?! Não é fantástica? Ei! Me diga! Esta situação. O que você quer, é tão maravilhosa esta vida física, a situação, esta brincadeira de Leela, esta natureza... não é um milagre? Diga “Sim!”, vamos! (risadas) Diga “Sim!”

Rashnu: Sim.

Dolano: Sim, é um milagre, é maravilhosa. Este fluxo de vida física, esta situação da vida física é maravilhosa. Porque você se preocupa sobre se sentir bem ou mal? Eu digo a você que esta situação é tão maravilhosa. Vale a pena o desconforto. Vale a pena o “inconforto”... ou desconforto? Alguém, algum professor de inglês, rápido! (risadas) Rápido!

Rashnu: Desconforto.

Dolano: Vale a pela o desconforto. Não se preocupe com o que você sente, entende? A meditação aponta para a vida em si mesma. Você tem que se apaixonar com o que reside mais profundamente do que os sentimentos. Sentimentos são tão mutáveis, eles não são feitos para serem sempre os mesmos. Seria não-natural desejar sentir-se sempre bem. Não é possível, e é por isso que você está nesta briga e nesta frustração.

Todos os dias você deixa passar a vida verdadeira por causa desta briga. “Eu quero me sentir bem. Ah, agora me sinto bem, agora preciso manter isso, hoje eu estou sentindo muito mais amor pelas pessoas. Ah se isto pudesse durar para sempre!” Estas são experiências, mas a natureza da experiência é que ela vem e vai. Esta é a sua natureza. Ela não pode ser eterna. Você exije algo não-natural, e é por isto que você sofre, entende?

Rashnu: Sim.

Dolano: Então a primeira lição para você é dar valor à vida propriamente dita. Assim, se você martelar o dedo, o desconforto ainda valerá a pena. Entende? Mesmo que você martele o dedo, você dirá que esta vida é grandiosa, entende? Senão você precisará passar por uma lição muito grande, um acidente alguma outra coisa muito desagradável. Algumas pessoas têm uma experiencia de quase-morte, e então voltam, e aí passam a valorizar... elas não se preocupam mais se estão se sentindo bem ou mal. Esta vida é um grande milagre! Eu irei desfrutá-la em meio aos bons e maus sentimentos. Porque você se preocupa em sentir-se bem ou mal? Isto é algo muito natural, entende? Sim?

Você está apaixonado pela meditação, então esteja apaixonado com isto e não se preocupe se você se sente bem ou mal. Não se apegue aos bons ou maus sentimentos. Sabe o que importa? A vida em si mesma. Sim? Ok, bom.

Rashnu: Sim, obrigado.

Dolano: Estar no caminho... meditação... você tem que aprender a valorizar o que é; o que é! Você talvez tenha ouvido as histórias zen. Você ouviu as histórias zen? As histórias zen sempre apontam para a ordinariedade. Mas a ordinariedade não é o que você pensa que é. ‘Esmalte de unha da cor azul não é permitido aqui, isto não é “ordinário”’. Você pensa que o ordinário deve ser muito chato. O ordinário não é chato. O ordinário aponta para o que é. Isto é um milagre. O que mais você quer. Você tem que aprender a valorizar o que é e não sair em busca de experiências. Você me entende? Pelo fato de você estar buscando e perseguindo coisas, você não fica no aqui e agora.

E até se Deus vier até você, ele logo terá que ir-se. Qualquer coisa que venha terá que ir. Você terá que descobrir o que nunca vem e o que nunca vai e ver o valor disto. Você fica apaixonado por isto. Não negligencie, é natural se apaixonar por isto, entende?

E você está em um mal entendido preso no bem e no mal estar. Você deixa passar o que você realmente ama no meio destes sentimentos bons ou maus. Em qualquer circunstância você está amando isto. Isto o torna pronto para a iluminação. Sim? É por isso que as pessoas que estão no caminho tendem a se perder no esoterismo, entende? As pessoas entram em meditação e então alguma coisa tem que acontecer: “Eu estou esperando por uma explosão.” Eu digo que se você meditar nada deverá acontecer.

Nada deve acontecer. O que acontece logo se vai, você não pode contar com isso. Bom ou mal. Você tem que conhecer aquilo que nunca vem e nunca vai. Nada deve acontecer durante a meditação, nada deve acontecer. Você tem que estar apaixonado com o “nunca acontecer nada”. É isto, esta é a única coisa eterna. E esta é a vida propriamente dita. Você entende? Se apaixone por isso, este é o ponto da meditação. Sim? Ok.

Rashnu: Sim, obrigado.


Conversaremos os pés, por Satyaprem

Há muito tempo atrás, escrevi um poema para o Osho, um haiku, forma poética japonesa ZEN como arte de dizer o máximo com o mínimo:

entrem e sentem
conversaremos os pés
sobre o nada

Só os seus pés irão entender o que temos para falar, a sua cabeça não entenderá.

Eu preciso que seus pés entendam.

O único conhecimento válido, é o conhecimento que entra pelos seus pés, que está além das palavras, e já está aqui.

Apenas uma coisa o impede de ver: achar que não pode ser assim.

E é isso que compartilhamos em Satsang.

Estamos aqui para desentocar aquilo que está escondido embaixo do oceano, aquilo que está desde o primeiro momento como o grande historiador de tudo.

Satyaprem - Diário
Brasil, 03/04/2012

http://www.satyaprem.com/diario.asp


A queda do manto, por Nasrudin

Ao ouvir um forte estrondo, a mulher de Nasrudin saiu correndo até o quarto.

- Não precisa se preocupar, disse o Mullá, foi apenas meu manto que caiu no chão.

- O quê? E fez um barulho desses?

- Sim, é que na hora eu estava dentro dele. :-T